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Ganhei o dia

Eis que a sola do meu sapato se descola dentro do metrô. Sigo até o meu destino na esperança de comprar um Super Bonder e resolver o problema. Colei. Não deu certo.  Um morador de rua, daqueles que a gente olha, mas não enxerga, oferece ajuda. Desconfio, mas compro outro tubinho da cola. Ele me leva até uma sombra e me apresenta aos amigos dele. Cola meu sapato pacientemente enquanto conversa comigo.  Sim, tive muito receio. Mais ainda quando pensei que deveria retribuir.  No final, agradeço e pergunto como posso ajudar. Dessa vez o receio foi pela resposta. Ele para por alguns segundos e dispara: "Não preciso de ajuda, não. Você agradeceu de coração e isso pra mim já tá bom. Agora adiante seu lado e não pise em poça d'água". Ganhei um aperto de mão e um abraço forte. Ganhei um peso na consciência pelo medo que senti.  Depois? Depois o sapato descolou de novo. Mas agora isso foi um detalhe.  Ganhei o dia.

Tempo

Assim como uma série de ideias que colocam na nossa cabeça desde que a gente começa a ter noção do que somos no mundo, falam sobre o tempo. O dia com 24 horas, o mês com 31 dias, o ano com 12 meses. Mas quem inventou a medida do tempo? De onde será que surgiu a ideia de que, por exemplo, durante o dia temos que fazer certas coisas ao acordar e outras pouco antes de dormir? Ou de que temos até determinado momento na vida para tomar decisões, fazer escolhas, seguir caminhos. Estranho... Não que não devemos agir ou viver somente à sorte dos acontecimentos. Eu me refiro a viver com menos pressa, a entender o nosso próprio tempo ao invés do tempo dos outros ou do tempo que os outros dizem que as coisas tem. Quando a gente respeita o nosso próprio tempo, a cabeça pensa com calma, reflete, entende, compreende, aceita. E aí age! E aí determina! E aí faz acontecer! Quando é assim, inclusive, o acontecer dá certo. Porque dentro da gente, genuinamente, de fato queremos, dedicamos

Mistério sempre há de pintar por aí...

Temas exotéricos chamam minha atenção a ponto de me fazer levar horas lendo sobre astrologia, numerologia e tendo conversas que parecem não ter fim com amigos que têm o mesmo interesse no assunto. No final de 2014 uma amiga tomou coragem pra se consultar com uma taróloga/medium e acabou me levando junto. A conversa durou uma hora, mas me deixou num estado de inquietação tão forte que eu me dividia entre achar tudo aquilo interessante e ao mesmo tempo assustador.  Cheguei com uma vontade grande de entender como aquilo tudo funcionava, mas muito desconfiado (mania de jornalista). Qualquer defesa que eu tinha foi derrubada nos primeiros dez minutos de conversa. Ela descreveu o meu momento presente com uma precisão que me deixou sem reação. Também ouvi toda a minha personalidade, o meu jeito de ser e de encarar as situações ser apresentado a mim. Era como se eu estivesse conversando comigo.  A segunda parte da conversa parecia querer atestar de uma vez por todas que aquilo tu

Fuga

Sempre gostei muito de dormir. Não consigo ver sentido em dizer que dormir muito é perda de tempo. Não consigo achar interessante viver perdendo noite aproveitando as supostas possibilidades infinitas dos acasos da vida. Nos finais de semana e feriados eu durmo até não conseguir mais ficar na cama. Até perder o sono por fome ou por dor no corpo depois de tanto tempo deitado. Mas durante a semana é diferente independente de estar trabalhando e ter obrigação com o relógio. Há algum tempo dormir virou uma fuga. Quando estou ansioso ou triste, separo um momento do dia para tirar um longo cochilo. Ou então deito mais cedo que o de costume e só levanto no dia seguinte. Percebi que funciona como uma espécie de anestésico contra ansiedade já que faz o tempo passar rápido e o que está por vir chegar mais depressa. Mas o termo fuga faz mais sentido quando se trata de tristeza. Tenho certa facilidade para sonhar. Na verdade não sei se facilidade seria a palavra mais apropriada. M

Saudade sem cura

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Há exatamente seis meses estava eu saindo de Toronto para voltar à Salvador depois de um intercâmbio que aconteceu durante todo o primeiro semestre de 2014. Daqui a uma semana faz um ano que eu saí daqui para chegar naquela terra gelada e que nos primeiros dias me fez pensar se eu realmente queria ficar tanto tempo longe de casa. À época nem passava pela minha cabeça que Toronto também ia virar na essência a minha casa e que sair de lá ia ser mais doloroso que deixar Salvador. Só fui assimilar a ideia de que estava deixando o Canadá quando saí com duas malas pesadas da casa em que eu estava morando. Fiquei muito sentido ao longo do caminho no metrô. A cada estação eu lembrava de algum episódio dessa que foi a minha mais incrível aventura. Foi uma espécie de retrospectiva de tudo de melhor que eu vivi naquela cidade maravilhosa.  Vista da CN Tower No aeroporto eu acabei me distraindo porque encontrei um amigo que vinha no mesmo voo que eu. O momento realmente difícil foi qu

''Tempo rei''

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Distillery District Engraçado como o tempo faz verdadeiros milagres na vida da gente, na nossa cabeça e no nosso coração. Há exatos cinco meses e dezesseis dias eu desembarquei em Toronto para dar início a um intercâmbio. Sou jovem, tenho 22 anos, e havia acabado de concluir a minha graduação. Ou seja, como muita gente me disse antes da viagem, eu escolhi a época certa para viver essa experiência. Já pensava em fazer intercâmbio antes mesmo de entrar na faculdade. Ao longo do tempo fui conversando sobre a ideia com meus pais e aí com cerca de um ano de antecedência comecei de fato a me preparar para a viagem. Até então eu nunca tinha ficado mais de quinze dias longe de casa ou feito uma viagem internacional. Como a vida inteira ouvi de muita gente que eu era maduro e que tinha uma cabeça de uma pessoa mais velha, cheguei a ter a pretensão de imaginar que ficar longe de tudo por esse tempo não seria um grande desafio pra mim. Doce ilusão... No meu primeiro dia em Toronto a

O canadense

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A gente sempre ouve dizer que o Brasil tem a fama de ter um povo hospitaleiro, simpático e que sabe receber bem o turista. Com todos os holofotes do planeta voltados para o país em função da Copa, essa imagem foi reforçada para o mundo inteiro. Basta assistir a qualquer vídeo na internet que apresenta o país ou as cidades sede dos jogos que dá pra perceber claramente que essa energia do brasileiro é apresentada quase que como mais uma atração turística. Não sei como são os outros povos ao redor do mundo, mas desde o meu primeiro dia em Toronto já pude sentir o quanto que o canadense é educado, solícito e agradável. Ao desembarcar fiquei sem saber para que lado ia porque o aeroporto internacional de Toronto é muito grande. Quase um labirinto. Meu amigo acabou demorando um pouco para ir me buscar. Até saber do paradeiro dele eu pedi informação sobre a saída do aeroporto a alguns funcionários que me trataram muito bem. E olhe que nessa época eu falava muito pouco em inglês. Depois fu