A música como instrumento da violência

Há alguns dias atrás eu estava assistindo TV e acabei parando num canal onde estava passando um programa que mesclava reportagens sobre assuntos ligados diretamente à Bahia e notícias sobre festas e artistas baianos. Havia uma banda de pagode divulgando sua agenda de shows, cantando seus sucessos e quebrando um CD... Isso mesmo! Quebrando um CD de outra banda ao vivo!

Aquilo chamou tanto minha atenção que parei tudo que estava fazendo para entender qual a motivação daquilo. E não precisei chegar ao final do programa para perceber exatamente o que estava acontecendo.

Pelo que pude entender, existem duas bandas de pagode que surgiram quase na mesma época e são rivais. Em quase todos os shows os vocalistas trocam insultos e ofensas. Até os fãs destas bandas “compram briga” uns com os outros.

No programa em questão, o apresentador perguntava com um tom visivelmente irônico o motivo da rivalidade, pedia para que os integrantes contassem situações em que os dois grupos musicais entraram em conflito físico e, para fechar com “chave de ouro”, ele pediu ao vocalista para aproveitar a oportunidade e mandar uma mensagem para a outra banda. O rapaz atendeu ao pedido com um tom absurdamente ameaçador.

Mas não parou por aí! O apresentador, que parecia se divertir com toda a situação, buscou um CD da outra banda, apresentou para o vocalista que estava no estúdio e perguntou a ele se havia a possibilidade de cantar uma das músicas do álbum. Foi aí que o CD foi jogado no chão, pisado e, não satisfeito, o rapaz ainda o quebrou.

Depois de tudo, o apresentador agradeceu a presença da banda e se despediu do programa avisando ao vocalista da banda rival que o estúdio estava de portas abertas para recebê-los numa possível resposta ao ocorrido.

Mais tarde, quando parei para analisar a situação, não consegui sentir outra coisa que não fosse vergonha enquanto baiano e estudante de comunicação. Aquilo ali, nada mais era do que uma clara apologia à violência. As pessoas que assistem TV enquanto almoçam digerem, junto com a comida, toda aquela barbaridade.

Pior ainda é ver que aquele “circo” todo estava sendo comandado por um profissional que se diz jornalista. Fico me perguntando, até hoje, como que uma pessoa leva anos em uma universidade estudando para se tornar um comunicador social e, no entanto, joga todo o aprendizado no lixo ao promover este tipo de baixaria na TV.

Mais grave ainda é imaginar que dois grupos que vivem de música, estão fazendo uso desta forma de arte tão nobre para promover a violência, a intolerância e ajudando a depreciar mais ainda um estilo musical essencialmente popular.

Este tipo de situação faz com que os apreciadores deste gênero musical sejam vistos de forma marginalizada, assim como estas bandas são vistas. Vai ver é, na verdade, esta a ideologia “artística” na qual elas se baseiam.

Comentários

  1. Liderança de audiência fora da Globo na Bahia é sinônimo de BAIXARIA.

    Sem mais.

    Infelizmente, o grau de instrução da maioria da população baiana permite que produtos do gênero consigam tantos índices de audiência.

    É triste.

    Pior ainda são os programas policiais, que mostram gente morta...

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