O significado da palavra frio

Meses antes de comprar as passagens muita gente já me alertava quanto ao frio de Toronto nesse período de início de ano, em especial neste inverno que tem sido o mais rigoroso das últimas décadas por aqui. Mesmo tendo uma vaga noção do que iria encontrar, eu só fui comprar roupa de frio na semana da viagem. Coloquei na mala alguns suetérs e dois casacos bem grossos. Não comprei muita coisa porque no Canadá roupa de inverno é muito mais barata que no Brasil. Sem falar que um casaco de frio que é vendido em Salvador dificilmente vai ser ideal para o frio típico de um inverno canadense.

Cheguei de manhã ao aeroporto Aeroporto Internacional Pearson de Toronto em uma viagem cansativa que levou dez horas partindo do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Estava usando uma camisa, suéter, casaco, luvas de tecido, calça jeans, tênis e duas meias em cada pé. Rafael, meu amigo que mora aqui com a esposa Bebel, foi me buscar. Enquanto estava lá dentro ainda não tinha sentido o tal frio de Toronto. Achei até estranho... Mas lembrei que todos os lugares da cidade tem aquecedores. Para chegar à casa dele, antes de ir para a minha homestay, tínhamos que pegar dois ônibus e um metrô. No curto espaço de tempo que levamos no ponto e na estação, e depois andando até chegar ao prédio, a sensação que eu tive foi de DESESPERO (sim, desespero em caixa alta!).

Em segundos senti um frio que eu nunca havia sentido antes. Ou melhor dizendo, não senti! Era tanto frio que em pouco tempo eu perdi totalmente a sensibilidade nos pés, mãos, nariz, boca e orelhas. Eu definitivamente não estava bem agasalhado e paguei um preço alto, em todos os sentidos, por subestimar o frio. Achei que os 10º que peguei há alguns anos em uma viagem à cidade de Gramado, no Rio Grande do Sul, tinha me dado uma noção dos -19º com sensação térmica de -31º que me esperavam. 

Depois de chegar ao apartamento dele, mesmo com o aquecedor ligado eu continuei sentindo um frio absurdo por um tempo. Tomamos café da manhã e fui logo com Bebel comprar algumas ''armas'' que iriam me proteger daquela guerra contra o frio. Compramos um casaco, bota e um gorro. O capuz do casaco tem um revestimento na borda que lembra pelúcia. Esse detalhe a princípio não me agradou, mas depois percebi que ele é importante para barrar a neve que cai no rosto. E a bota também é essencial porque a neve faz com que o chão vire uma espécie de areia fofa e escorregadia. 

Nos outros dias eu fui comprando mais coisas para me proteger. Comprei luva de couro, cachecol e protetor de orelha. Depois de uma semana eu comprei uma camisa e uma calça térmica, a chamada segunda pele, que é ótima para manter a temperatura normal do corpo e fazer com que o frio não incomode tanto. Acho que com tudo isso eu gastei algo em torno de uns C$ 250. 

Mas nem tudo é ruim nesse frio todo. O primeiro impacto é terrível, mas com o tempo a gente vai se acostumando, se adaptando. Hoje em dia quando os termômetros registram algo em torno de -10º, -2º, 0º, o dia está bom. Dá até pra dizer que está mais ''quente''. Vale destacar que o que faz o frio ficar insuportável na verdade é o vento. O corpo e principalmente a cabeça chegam a doer quando a gente anda nas ruas daqui e de repente sentimos um vento mais forte.

No meu primeiro dia na cidade mais populosa do Canadá vi neve pela primeira vez na vida! Foi enquanto andava à procura de casaco. A princípio não achei interessante porque a vontade de me aquecer logo não me deixava pensar em mais nada. Por sinal, ao sair da casa de meu amigo para ir à minha homestay eu acabei me perdendo. Com frio, carregando uma mala pesada, e ainda exausto, a neve só fazia me atrapalhar. 

Dias depois fui me deparando com neve caindo enquanto eu andava nas ruas ou então batendo na janela da casa onde estou morando. Apesar de neve significar frio e um verdadeiro malabarismo para andar na rua sem cair, tenho que admitir que ela é linda e deixa a cidade com um charme todo especial.

Imagens: http://instagram.com/arturqzz

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