O segredo é não parar de falar

Assim que abri o blog para fazer esta postagem percebi que a última havia sido feita há um mês e alguns dias. O tempo tem passado tão rápido que as vezes eu até me assusto... Fico até me perguntando como foi que o meu primeiro mês aqui em Toronto pareceu uma eternidade e, no entanto, de um tempo para cá o relógio tem dado voltas numa velocidade fora do normal. Acho que isso é porque as coisas por aqui deixaram de ser novidade e eu já não me sinto mais um estranho nessa terra que é fria mesmo em dias tão ensolarados que me fazem lembrar o céu de Salvador.

Desde o meado do mês de abril a minha rotina mudou bastante por aqui. Isso porque as minhas aulas acabaram. Como eu já falei em postagens anteriores, esse intercâmbio conta com três meses de estudo e três meses de trabalho ou WEP (Work Experience - Experiência de Trabalho). No meu segundo dia de Toronto eu já estava na escola tendo aula das 9h às 16h. A primeira aula era das 9h às 12h, a segunda das 13h às 14h30 e a terceira das 14h30 às 16h. Como no dia do teste de nivelamento eu escolhi o curso que era mais voltado para a comunicação, essa primeira aula treinava a forma de a gente se expressar para se fazer ser compreendido pelos outros colegas. As outras aulas mudavam a cada mês de acordo com a nossa escolha e orientação dos professores. Tive aulas focadas em gramática, leitura, pronúncia, vocabulário e oratória (a melhor  de todas!). 

No meu primeiro dia de aula a sensação era de que eu nunca havia estudado inglês na vida. Ou pelo menos de que nunca havia passado do nível básico nos cursos que fiz em Salvador. Há muitos anos estudei na extinta escola de idiomas UEC, que funcionava no mesmo prédio do Teatro Jorge Amado, na Pituba. Anos depois, já na faculdade, eu concluí em dois anos o curso de inglês do Núcleo de Extensão em Letras da Universidade Federal da Bahia, em Ondina. Ao chegar aqui a minha base de gramática até que era razoável, mas conversar em inglês pra mim era quase impossível. Só fui ter a dimensão do quão ruim foi passar tanto tempo sem praticar o idioma quando cheguei aqui. 

Apesar desse susto, já na primeira semana eu senti uma melhora significativa. Não tinha como não ser desse jeito já que além de um dia inteiro de aula, a canadense, dona da casa em que eu morei nos dois primeiros meses, também só falava em inglês. Toronto tem brasileiros por toda parte e é inevitável você não falar português com um que você conheça aqui. Antes de vir para cá muita gente me dizia para fugir dos brasileiros. Pra mim isso é bobagem. Conheci também muita gente de todas as partes do mundo. Colombianos, espanhóis, italianos, franceses, portugueses, eslováquios, suecos, mexicanos, irlandeses, japoneses, coreanos... E claro, canadenses.

Mesmo quando eu já estava me arriscando mais a conversar em inglês sem aquela preocupação de estar falando da maneira mais correta, os diferentes tipos de sotaque me atrapalhavam bastante. Se no Brasil a gente não consegue entender certas palavras por causa da forma como os brasileiros de diferentes regiões falam, imagine quando se trata de um idioma que a gente não domina completamente... Era muito, muito difícil. Com algumas pessoas eu conseguia conversar por horas, mas com outras até um simples ''good morning'' era difícil de se entender.

Quando as minhas aulas acabaram eu ainda quis ficar por mais tempo na escola. Pra mim o inglês só ia ficar afiado com mais algumas aulas. Mas acabei usando o tempo livre que passei a ter para, entre outras coisas, estudar gramática e vocabulário. Continuo treinando o ouvido como já fazia antes: ouvindo música em inglês e assistindo filmes e seriados ora com legenda em inglês e ora sem legenda. Não é a mesma coisa de estar em sala de aula todos os dias, mas tem sido bastante produtivo. Já a fala eu basicamente tenho treinado com alguns amigos canadenses. A ''avaliação'' deles acaba sendo um termômetro pra eu saber se estou falando bem ou não. Eu acho até que quando se trata de treinar a fala e o ouvido, o melhor mesmo é ir pra rua e falar com as pessoas em inglês. Sem medo de errar e estando aberto a ouvir correções. 

Sem nenhum exagero, esses três meses que eu levei estudando inglês em sala de aula por aqui foram mais produtivos que os anos que levei estudando em escolas de idioma em Salvador. Talvez um dos fatores para isso seja por eu não ter mais tocado em nada do idioma depois que concluí o curso por lá. A verdade é que o grande segredo é não deixar de praticar. Quando eu voltar ao Brasil vai ser mais difícil porque eu não vou achar um estrangeiro pra ficar conversando comigo em inglês, mas deixar o idioma totalmente de lado como antes, jamais!

Vista da janela da sala
Imagem: http://instagram.com/arturqzz

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